sábado, 17 de agosto de 2013

Amor além mar

Há exatos 341 dias vim pra Lisboa, hoje estou há um dia de distância do Brasil. Tudo agora tem um ar de despedida, tive duas noites de insônia essa semana e não paro de comer. Os efeitos da ansiedade. As malas já estão quase prontas. Sobraram poucos euros. 

Faço uma viagem no tempo. Eu conheci Madrid no último outono. Tive minhas aventuras na chueca. No inverno fiz meu primeiro mochilão. Conheci Barcelona e o império deixado por Gaudí. Tentei um banho de mar no mediterrâneo, mas a água estava geladíssima. Segui pra Berlin em busca do sonho de passar o natal construindo bonecos de neve. Não nevou no natal, mas tudo bem, brincamos com a neve do dia anterior que sobrou no estacionamento.

Estive no muro de Berlin. Andei de bicicleta em Amsterdam e fiz minha visitinha no famoso Bulldog. Vi as meninas da Red Light Street antes de partir pra Londres. Entre tantos aeroportos seria um absurdo não passar por nenhum sufoco dentro de algum avião e foi o que aconteceu com duas tentativas falhas de pouso. Perdemos um dia em Londres em função desse contratempo. Sai, felizmente, vivo.

A virada do ano foi na London Eye lotada e com uma energia incrivel. Tinha os meninos fantasiados de tigrão. Os fogos de artificio mais incriveis. Dia seguinte assistimos a parada do ano novo, um desfile lindo. Em Londres visitei a casa da Amy Winehouse, passei pela Abbey Road e reproduzi os Beatles atravessando a faixa de pedestres. Foi em Londres que minha câmera foi levada pelo argentino que eu dividia o quarto no hostel, e foi em Londres também que perdi o voo pra Paris que acabei conhecendo recentemente.

Conhecer Paris no verão foi incrível. Amanheci bêbado em frente ao Pompidou correndo louco atrás dos pombos. Realizei o sonho de conhecer a Grécia logo depois, Atenas e suas ruínas. Mykonos e suas praias incríveis. 

Cheguei ao fim da viagem. Agora é hora de voltar a tudo que eu deixei, estou há um dia de distância do Brasil. Quero engolir Lisboa e ser engolido pela cidade. Faltam poucas casas nesse campo minado. Fica a promessa da volta e o idealismo de um novo começo. Novos objetivos.

domingo, 11 de agosto de 2013

Bairro Alto

O bairro tem dessas de se estar andando e então encontrar alguém de outro canto do mundo. Um encontro improvável de estranhos que nunca mais se repetirá com as mesmas pessoas. Bêbadas, transloucadas, seguras para manter uma conversa. De onde vocês são? Norte americanas falando espanhol, abusamos do inglês. Vocês são tão lindos, obrigado. Agora conte-nos sobre São Francisco. Se você pedir um café te julgam careta e andam de nariz um pouco em pé, preferimos Washington. As pessoas são maravilhosas e a vida noturna é muito animada. Uma pausa para uma foto, ela tinha essa obsessão. 


sábado, 10 de agosto de 2013

Sensação de calor


I. O contexto

A sexta-feira a noite sai
tênis, short de vagabunda, camiseta, jaqueta jeans, garrafa de cerveja

II. O personagem

Paro, bebo, anda, rebola
Atravessa a rua, encara, pisca o olho e rebola

III. O casal

Cruzo o casal, fita-me as pernas
sorrio e sigo

IV. A moça

A carteira de cigarros cai
abaixo, pego, entrego, agradece
o molho de chaves na mão
não há de quê, sorrio 
me despeço

V. O táxi

Desço a ladeira, subo a ladeira
paro no sinal e digo não
ao taxista

VI. Os homens

Um carro escuro
o motorista e mais quatro
dentro cabem cinco e algumas piadas

VII. O fim

A garrafa vazia, mijo, joga fora
O bar fechado.

VIII. O começo

vamos a outro
entro, peço, entrega, pago e sai
encosta na parede

Entro na festa,
drinks e espuma, bebo
e afundamos juntos
sobretudo limpos.