quinta-feira, 16 de junho de 2011

Hoje a noite

Sentado no chão, agasalhado. Fones no ouvido, à noite esta quieta.
- Leonardo. Leonardo! (chamaram no portão)
Leonardo não sou eu, deve ser um dos meus vizinhos louquinhos. Os dois dividem a casa colada a minha, recém-chegados. Às vezes me assustava com os gritos, depois passei a rir com eles. 

Tirei o casaco, joguei na cama vazia debaixo do beliche. Essa já foi ocupada por uma amiga minha que passou uns tempos cá comigo. Quando chegou fez questão de lavar o banheiro e varrer a casa, uma maravilha essa menina - pensei comigo. Nunca mais tocou na vassoura, mas insistia em dizer que sem ela a casa viraria um chiqueiro. Foi embora uns trinta dias depois e deixou esse vazio que agora ocupo com travesseiros, malas de viagem, livros, pacotes vazios de biscoito, roupas usadas e agora meu casaco - uma bagunça que só.

A rua está quieta agora. Não tem ninguém chamando Leonardo, a chuva que antes caia cessou e o único ruído que ouço é de um carro que parece ter passado pela rua principal e pelo som, que acompanhava o barulho das rodas, passou por uma das poças de lama e sujou uma casa - uma qualquer, não a minha. A parede de minha casa está limpa, apesar de ter uma poça cinza de lama na frente, graças à montanha de materiais de construção que fecha a rua os carros não passam por aqui. Só passa gente. A maioria é gente de bem, mas teve lá um dia em que um malandro deu as caras por aqui e entrou na casa da vizinha e não demorou muito para que a polícia chegasse e levasse o danado que passou de cabeça baixa pela frente dos homens agressivos que não se contentavam em xingar apenas ele - sobrando também para sua infeliz mãe. Esse episódio foi realmente traumatizante, nesse dia só pude dormir tranquilo depois de pegar a panela de pressão e colocar na cabeceira da cama. 

A rua continua quieta. O cd que tocava a uma hora atrás começa a repetir as músicas e começo a me entediar. Ninguém chamou Leonardo, nenhum carro passou pela rua, nenhuma casa foi suja. Agora só ouço o tic-tac do despertador, presente de mamãe. Ganhei depois de comentar que o inútil do meu celular havia deixado de despertar mais uma vez, me fazendo perder o ônibus das oito e me obrigando a pegar o das nove que graças a deus passou as oito e quarenta e cinco e não me deixou chegar muito atrasado. 

Já passam das dez e começo a sentir a necessidade de fazer algo produtivo. Assistir um filme, talvez ou quem saiba ler um daqueles livros e artigos que há muito venho enrolando para ler. Vou assistir um filme, depois tomo café e se ainda estiver sem sono procuro algo pra ler. Letras miúdas sempre me deixam sonolento.

Um comentário:

  1. MUITO BOM TEXTO, BASTANTE INTERESSANTE O PERSONAGEM E AS SUAS ESQUIZOFRENIAS NOTURNAS, SEUS LAÇOS DE MEMORIAS NOS REMETENDO A VÁRIOS DADOS DA NARRATIVA COM INQUIETUDES POÉTICA.

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Vais morder ou são só beijinhos?