segunda-feira, 15 de julho de 2013

Madrugada

De dentro do quarto que eu não sei se é dia ou noite eu penso. Eu martelo a mesma ideia. Eu acredito no amor. Embora ninguém me ame. De dentro do quarto onde eu não sei se é dia ou noite eu me perco. Eu me encontro. Eu sinto fome. Eu olho pro teto. Estou encurralado dentro do quarto e não sei se é dia ou noite então pergunto ao relógio sem dizer uma palavra. Meus olhos apenas se deslocam. Passeio pelas quatro paredes. Tenho uma epifania, duas, três vezes seguidas. De dentro do quarto que eu não sei se é dia ou noite eu amanheço o dia. Eu não vejo o sol nascer. Dentro do quarto onde eu não sei se é dia ou noite não existem janelas. Só as que crio com as dúvidas que me assombram. O quarto é repleto de fantasmas e é repleto de mim. Só há espaço para mim dentro do quarto. O dia ou a noite não cabem aqui em meio a minhas dúvidas. Tudo aqui dentro é incerto. O tempo passa mas não existe dentro do quarto. Dia e noite são sempre iguais. O quarto está sempre escuro e a luz sobre a escrivaninha.  Acesa. Eu não durmo, estou sempre acordado. Dia e noite não existe. Existe o quarto comigo dentro. E o silêncio. O silêncio. De dentro do quarto que eu não sei se é dia ou noite é sempre calmo e assustador. Todas as respostas e questões estão dentro do quarto, mas daqui de dentro não se sabe se é dia ou noite. Como pode o quarto saber tanta coisa e ao mesmo tempo não saber de nada? Eu existo dentro do quarto. O quarto está contido dentro de mim, o quarto é uma extensão de mim. Eu sou o quarto. O quarto tem uma porta, mas eu não a abro. Fora do quarto tudo se esparrama. Eu esparramo pra fora do quarto. Mas não é seguro. Só dentro do quarto onde não se sabe se é dia ou noite eu não escapo.

Um comentário:

Vais morder ou são só beijinhos?