Há
uma semana o telefone tocou pela última vez. Nas esquinas o
silêncio. Estou incerto sobre o que esta acontecendo. Você está
sozinho e imergindo mais a cada dia. Você está em guerra e em paz. Faz
tempo que não lhe dizem coisas horríveis, mas amanhã pode não ser mais
assim. Posso desaparecer no próximo instante, e reaparecer bem na sua
frente. Nem tudo é sobre lágrimas, nem toda tristeza é choro. A
qualquer hora o telefone pode tocar. Alguém dizendo que é apenas uma
amostra. Estou sobre uma ponte que se destrói a cada passo. Atrás as
lembranças despencam no abismo. É preciso correr sem olhar pra trás.
Atrás a poeira de tudo o que você construiu. Seguindo em frente há
um terreno baldio e tudo o que você precisa vai chegar na próxima quinta-feira.
Agora corra. Corra sem olhar pra trás. O telefone pode voltar a
tocar, apenas esteja pronto. Pode ser alguém dizendo desaforos, alguém
que precise de ajuda. Faz vinte e sete dias que você esta correndo e
parece que cansaram, mas esteja pronto caso te surpreendam. Eu estou
perdendo a memória e você também poderia fazê-lo. Esquece as maldades que
te ensinaram. Abrace seu filho. Você está perdendo o fôlego, mas eu
continuo correndo e estamos a uma semana de distância. Não há ninguém e
isso começa a me incomodar. Você consegue ficar longe de alguém que ama
enquanto eu sinto nos nervos o medo de ser apagado de sua memória. Eu sei
que você chora antes de dormir. Você pode vim até a mim, mas não me
machuque. Não tente me ferir. Eu estou correndo e é pro meu próprio
bem. Posso sentir meus pés se desfazendo. A qualquer momento estarei
liberto do chão e começarei a voar.
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Vais morder ou são só beijinhos?